SOUC 2023

I – A SABEDORIA

“O homem espiritual julga todas as coisas” (1 Cor. 2, 15); subentende-se “julga corretamente” por ser guiado pelo Espírito da Verdade. O sábio avalia tudo à luz da fé e da eternidade, sub especie aeternitates; conhece o verdadeiro valor e desvalor das coisas; tem o “sentir de Cristo” (1 Cor. 2, 16), isto é, adota em tudo a apreciação de Cristo, contempla tudo com os olhos do Homem Deus. Não se deixa enganar por aparências, por opiniões da “maioria”, por “resultados” de uma ciência desorientada; Ele só pergunta pelo que pensa Deus sobre tal assunto e nunca o preocupa o julgamento do mundo. Semelhante modo de pensar deve-se ao Espírito Santo, ao qual “o mundo não pode receber” (Jo. 14, 17) “porque toda a sabedoria vem de Deus, Nosso Senhor” (Eclo. 1, 1).

É impossível entrarmos em detalhe; precisaríamos enumerar todas as atividades da vida tanto material como espiritual; enfim, essa enumeração já existe, exarada pelo próprio Espírito da Verdade nos Livros Sapienciais da Escritura Sagrada; também a Imitação de Cristo é conhecida da verdadeira sabedoria. Adotar em tudo os julgamentos e conselhos desses livros significa ser sábio.

“Quem poderá conhecer os vossos intentos sem que vós lhe deis sabedoria e lhe envieis das alturas o vosso Espírito Santo endireitando, assim, os caminhos dos moradores da Terra e sem que os homens aprendam o que vos apraz? Porque foram curados pela sabedoria todos os que vos agradaram desde o princípio” (Sab. 9, 17-19).
 
Pai Nosso – Ave Maria – Glória ao Pai.

II – O ENTENDIMENTO

“Dá-me entendimento e perscrutarei a tua lei” (Sl. 118, 34). Profundo conhecimento, larga compreensão, firme convicção são coisas que devemos ao Espírito Santo, conforme as promessas de Jesus (Jo. 14, 26. 16, 13). São Paulo atribui ao Espírito Santo todo o saber e compreender no tocante às verdades da fé: “Coisas que os olhos não viram e o ouvido não ouviu e não penetraram em coração humano: Deus no-lo revelou por seu Espírito, porque o Espírito tudo penetra, também as coisas profundas de Deus (…), as coisas que são de Deus ninguém conhece, senão o Espírito de Deus. Ora, nós não recebemos o Espírito deste mundo, mas sim, o Espírito de Deus para conhecermos as coisas que nos forem dadas por Deus” (1 Cor. 2, 10-12). O mesmo Ele deseja aos seus destinatários: Deus, o Pai Glorioso de Nosso Senhor Jesus Cristo, vos dá o Espírito da Sabedoria e da revelação para conhecerdes, sendo iluminados os olhos do coração. Quantas vezes não vemos gente sem muita instrução ter profundos conhecimentos religiosos junto com inabaláveis princípios? Obra do Espírito Santo que “sopra onde quer” (Jo. 3, 8). Devemos cultivar esse dom estudando, meditando, rezando. “Revelai os meus olhos, e considerarei as maravilhas da vossa lei” (Sl. 118, 18). “Dai-me Inteligência e aprenderei os vossos mandamentos” (Sl. 118, 73). “Quão doces são na minha boca as vossas palavras, mais do que o mel para o meu paladar” (Sl. 118, 103).

Pai Nosso – Ave Maria – Glória ao Pai.

III – O CONSELHO

“Porei o meu Espírito no vosso interior e farei com que andeis nos meus mandamentos, guardeis as minhas leis” (Ez. 36, 27). O dom do conselho é a influência do Espírito Santo sobre os atos e omissões da vida prática e a concreta. É aqui o campo das “Inspirações”: A cada momento o Espírito Santo ensina o que devemos fazer, o que omitir. “A vossa lei é meu conselheiro” (Sl. 118, 24). As almas conscienciosas têm esse grande cuidado, não fazer nada que não agrade a Deus; nem omitir nada que Deus deseja; vem-lhe ao mesmo tempo o coração dócil para ouvirem a sua voz suave. Nem tampouco deixam de pedir sempre mais luz e clareza; a Escritura Sagrada é cheia de belas jaculatórias para esse fim: “Dai-me a sabedoria, a assistência das vossas sedes (…) enviai-a para que esteja comigo e comigo trabalhe e eu saiba o que for de vosso agrado. Ela que sabe tudo e tudo entende, guardar-me-á sobriamente nos meus afazeres” (Sab. 9, 4.10-11). “Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos e as vossas sendas, ensinai-me!” (Sl. 24, 4); “Oxalá se dirigissem os meus caminhos a guardar a vossa lei!” (Sl. 118, 5); “Guardai-me na senda dos vossos mandamentos, são eles que eu anelo” (Sl. 118, 35); “Inclinai o meu coração para os vossos testemunhos!” (Sl. 118, 36); “Luz dos meus pés é a vossa palavra, iluminação do meu caminho” (Sl. 118, 105). Como os judeus chefiados pelo Anjo da Aliança atravessaram o deserto sãos e salvos, assim nós, os eleitos do vosso Testamento, atravessamos esse vale de lágrimas, movidos pelo Espírito Santo. Essa é a vida Santa que conduz ao paraíso: “Existirá uma estrada que será chamada Santa: imundo nenhum trilhará sobre ela, mas para vós será uma rua direita, de modo que nem sequer um tolo poderá errar nela” (Is. 35, 8).

“O modelo perfeito é Jesus Cristo: o Espírito levou-o para o deserto” (Mc. 1, 12 e Mt. 4, 1): “Cheio do Espírito Santo voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto” (Lc. 4, 1); “Jesus voltou sob o impulso do Espírito para a Galiléia” (Lc. 4, 14); “Naquela mesma hora exultou no Espírito Santo” (Lc. 4, 21). Em todos os seus atos, Jesus mostra-se guiado, inspirado pelo Espírito Santo. E para onde foi levado? Para a penitência, para a luta com o demônio, para os trabalhos apostólicos, para a oração.

Pai Nosso – Ave Maria – Glória ao Pai.

IV – A FORTALEZA

“Fortalecei as mãos cansadas, firmai os joelhos fracos, dizei aos pusilânimes: confortai-vos e não temais: eis que Deus mesmo virá para vos salvar” (Is. 35, 3-4).

“Eu estou cheio da força do Espírito Santo, fartado com justiça e fortaleza” (Mq. 3, 8). Assistindo-nos a força do alto, podemos tudo: defender a fé e a moral, enfrentar o respeito humano, exortar os tíbios, confessar os pecados humilhantes, pedir perdão ao próximo, perdoar as ofensas, praticar as virtudes em circunstâncias difíceis, por exemplo, o reconhecimento no bulício dos negócios, a pureza do coração nos inúmeros perigos que nos rodeiam, os humildes louvores, a paciência nas contrariedades contínuas. Precisamos deste dom para suportar uma doença duradoura, ou para tolerar pessoas que nos incomodam, para nunca se queixar, para ser fiel nas coisas mínimas. Cultivamos este dom reconhecendo a própria fraqueza, desconfiando de nós mesmos, esperando tudo de Deus, “sem o qual não podemos fazer nada” (Jo. 15, 5). “A nossa suficiência vem de Deus” (2 Cor. 3, 5). Confessemos com São Paulo: “De boa vontade gloriar-me-ei das minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Nosso Senhor Jesus Cristo. Pelo que folgo nas minhas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por Nosso Senhor Jesus Cristo, porque, quando estou fraco, então é que estou forte” (2 Cor. 12, 9-10).

Pai Nosso – Ave Maria – Glória ao Pai.

V – A CIÊNCIA

“Os olhos dos que vêem não ficarão no escuro, e os ouvidos dos que ouvem atentarão cuidadosamente e o coração dos ignorantes entenderá a ciência” (Is. 32, 3-4). Sob a influência do Espírito Santo, vê-se em tudo a mão de Deus, tudo fala de Deus, tudo conduz a Deus, numa palavra: põe-se tudo em relação com Deus. As flores falam da beleza divina, os rochedos da imobilidade, a água da pureza, o céu estrelado da imensidade e assim por diante; a natureza torna-se uma fonte de conhecimento e alegrias inocentes. Com tais pensamentos é que o Filho de Deus caminha pelo jardim de Deus. “Enxergaram a glória do Senhor e o esplendor do nosso Deus” (Is. 35, 2). É assim que Nosso Senhor Jesus Cristo passou pelo mundo visível. Olhai os lírios, olhai os passarinhos, olhai as searas! Os grandiosos hinos da natureza que encontramos na Bíblia foram igualmente inspirados pelo Espírito da Ciência. Por exemplo, os Salmos 8, 18 e 103 e o Livro de Jó, capítulo 37, versículos de 3 a 8. “Deleitastes-me, Senhor, pelos vossos feitos e rejubilei sobre a obra das vossas mãos, ó Senhor! Que maravilhas são vossas obras! Um tolo não as conhece, e o estúpido não as compreende” (Sl. 91, 5-7). Pelo dom da ciência, vemos nas guerras semelhantes calamidades públicas, o justo castigo de Deus: “Quem é o homem sábio que entende isso, para quem chega a palavra da boca do Senhor, para anunciar porque é que perecem e foi destruído o país como o deserto?” (Jr. 9, 11). Quem, pois, foi iluminado pelo Espírito Santo não se assusta, nem se surpreende com nada, ele está ciente da providência universal de Deus. É, afinal, pela ciência que vemos a autoridade divina nos pais, nos superiores, nos poderes civis. “Deus omnia in omnibus – Deus é tudo em todas as coisas!” (1 Cor. 15, 28). “Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, diz o Senhor Deus que é, que era e que há de vir, o Todo-poderoso” (Ap. 1, 8).

Pai Nosso – Ave Maria – Glória ao Pai.

VI – A PIEDADE

“Não recebestes outra vez o espírito da escravidão, no temor, mas recebestes o Espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Abba, Pai!” (Rm. 8, 15). “Porque sois filhos, Deus enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho que clama: Abba, Pai!” (Gl. 4, 6). Vimos, no dom da Ciência, que o Espírito Santo fez nossa alma semelhante ao Homem-Deus; aqui veremos que Ele, além da semelhança objetiva, produz também a subjetiva, isto é, os sentimentos filiais de Nosso Senhor Jesus Cristo para com seu Pai. Com efeito, pelo Batismo entramos em relações íntimas e familiares com Deus, a grande novidade na religião, Nosso Senhor Jesus Cristo, a Boa Nova. “Darei um novo coração no vosso interior e um novo Espírito, tirarei do vosso corpo o coração de pedra, pondo em seu lugar um coração de carne” (Ez. 36, 26). É o Espírito Santo que realiza em nós o grande mandamento de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Se não vos converterdes e vos fizerdes como meninos, não entrareis no Reino dos Céus” (Mt. 18, 3). Deus não quer escravos, nem tampouco conselheiros; Ele quer filhos dedicados e obedientes. Adotemos sentimentos filiais para com Deus, não tenhamos medo! É Ele mesmo que no-lo manda. A consciência dessa filiação chegará à alma com santo orgulho, indizível alegria, inabalável segurança e respeito filial. O sentimento filial submisso estender-se-á, outrossim, aos Santos, especialmente à Virgem Santíssima e a São José e aos padroeiros da própria escolha. Filhos bons não amam tão-somente aos seus pais, mas sim, também, aos irmãos. O dom da Piedade, portanto, faz com que amemos, também, ao próximo com verdadeira caridade cristã. É nesse sentido que São Paulo enumera os frutos do Espírito Santo: “caridade, gozo, paciência, benignidade, bondade, longanimidade, mansidão, fidelidade, modéstia, continência, castidade” (Gl. 5, 22-23).

Pai Nosso – Ave Maria – Glória ao Pai.

VII – O TEMOR DE DEUS

“Se invocais como Pai aquele que, sem guiar-se por consideração das pessoas julga segundo as obras de cada um, vivei em temor durante o tempo da vossa peregrinação” (1Pd. 1, 17). Trata-se de um temor reverencial para com Deus, assim como um filho respeita seu pai: tem receio de ofendê-lo, de desagradar-lhe, tem medo do pecado. O Espírito Santo ensina-nos a termos medo da nossa própria fraqueza, a trabalhar, por isso, para nossa salvação “com temor e tremor” (Fl. 2, 12), bem como a “cuidarmos de nós mesmos para não cair em tentações” (Gl. 6, 1). O mesmo sentido do respeito reverencial estende-se, também, às pessoas e às coisas relacionadas com Deus ou com a religião. Se a condescendência de Deus inspira-nos um amor filial, do outro lado, a superioridade absoluta de Deus, inspira-nos um temor filial; amor, temor são as partes integrantes da virtude da religião: nas nossas relações para com Deus não devem faltar nem uma nem outra. O temor é como um freio do filial; sem ele, o amor poder-se-á tornar arrogante, irreverencial, esquecer os limites intransponíveis entre a criatura e seu criador. O amor, por sua parte, é o perfume do temor; transfigura e eleva-o a um nível digno dum filho de Deus.

Pai Nosso – Ave Maria – Glória ao Pai.

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