Mês da Bíblia – Justiça e Misericórdia no Livro do Profeta Miquéias

Anualmente, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil traz para o mês de Setembro a proposta de reflexão e estudo sobre um livro da Bíblia. Este ano, foi escolhido o livro do profeta Miquéias, que será tema de um minicurso com o professor Carlos Frederico Schlaepfer, no dia 10 de setembro, das 9h30m às 12h. Nesta entrevista, o professor Schlaepfer comenta algumas características marcantes do texto de Miquéias que serão abordadas durante o encontro, como a revelação da misericórdia de Deus e a denúncia das injustiças sociais. O profeta também anuncia o Messias e destaca que de Belém sairá aquele que governará Israel.

Que importância tinham os profetas para a sociedade do tempo de Miquéias?
Carlos Frederico Schlaepfer:
O Profeta Miquéias vive na segunda metade do século VIII. Neste século, viveram Amós e Oséias, no Reino do Norte, e Isaías e Miquéias, no Reino do sul. Pelos nomes elencados destes profetas, podemos afirmar que se trata de um tempo privilegiado no que diz respeito à profecia. Diferentemente dos profetas ligados à corte, estes e outros profetas representam a aliança de Javé, isto é, a vida do povo em solidariedade e justiça. Os verdadeiros profetas sempre viveram a fidelidade em Javé, o Deus dos Hebreus, que livrou seu povo das garras do Faraó. Em outras palavras, um Deus que sempre quis a vida de seu povo em liberdade. Diante de uma monarquia construída sob a opressão e exploração do povo, o profeta é o seu contraponto, na medida em que levanta a sua voz em nome de Javé, denunciando essa triste realidade.

Por que Miquéias é classificado como um ‘profeta menor’?
Schlaepfer:
A classificação dos profetas em menores e maiores não está ligada à qualidade ou verdade de sua profecia, mas antes ao tamanho de sua literatura. Os livros dos profetas maiores são assim chamados porque possuem um número maior de capítulos e versículos se comparados com os chamados menores.

Por que muitos estudiosos apontam Miquéias como um profeta dos pobres, um profeta do povo?
Schlaepfer:
Miquéias não foi um profeta que viveu separado de seu povo. Ao contrário, sendo de uma cidade rural, viveu as condições de muitos outros agricultores. Sua cidade era alvo de grande especulação de terras, onde muitos companheiros perderam o sustento de suas vidas para o latifúndio crescente em suas terras. Localizada nas proximidades do reino dos filisteus, inimigos dos hebreus, as terras de Morasti tornaram-se estratégicas para a defesa do Reino do Sul.

Em seu livro, Miquéias critica duramente os dirigentes da nação e as desigualdades sociais. É possível traçar um paralelo entre a realidade vivida pelo povo no tempo de Miquéias e as mazelas que temos em nossa sociedade atual?
Schlaepfer:
A profecia, embora seja proferida em uma determinada época, não perde o valor nem a verdade nela contida, ao longo do tempo. Se olharmos com detalhes o livro de Miquéias, vamos perceber que ali estão palavras que não foram ditas na época de Miquéias, mas séculos depois de sua morte, por grupos de pessoas que procuraram atualizar a mensagem do profeta dentro de uma outra realidade vivida, no caso o tempo do exílio. Sendo assim, a sua mensagem pode muito bem ser atualizada hoje. O grito dos que não são ouvidos hoje encontra eco nas palavras de Miquéias. A opressão econômica, os golpes políticos, o abuso do poder por parte do judiciário torna-se evidente diante das críticas que Miquéias fez em seu tempo.

Qual é a grande mensagem do texto de Miquéias?
Schlaepfer:
Neste ano, em que o livro do profeta Miquéias é escolhido para a reflexão durante o mês da Bíblia, o tema é “A profecia em defesa da vida”. Já o lema, tirado de Miquéias 6,8, resume bem a sua grande mensagem: “Praticar o direito, amar a misericórdia, caminhar humildemente com o teu Deus”.

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