O Papel Revelador da Luz na Arquitetura das Igrejas

A luz está presente em toda a história da Igreja, tanto na Bíblia Sagrada, quanto nos ritos litúrgicos, nos quais aparece como um elemento repleto de símbolos que levam o homem a um entendimento e um contato mais íntimo com Deus. No Gênesis, o “Faça-se a luz!” inicia o mito da criação, no Novo Testamento Cristo revela-se como a “Luz da Vida”, que irá tirar das trevas quem o segue. E se a luz é um elemento tão importante, por que não usá-lo nas igrejas como uma forma de conduzir o fiel a um encontro mais íntimo com Deus? Essas questões foram discutidas pelo arquiteto Fábio Sotero, especialista em Iluminação e Arte Sacra, em uma palestra realizada pelo Centro Loyola de Fé e Cultura, no dia 10 de setembro.

Na palestra, Fábio mostrou como a luz é repleta de simbolismos. Ela pode ser tanto um elemento técnico, do objeto que serve para iluminar um ambiente, quanto a metáfora usada como sinônimo para o “conhecimento” ou o “bem”, ou ainda como expressão do próprio Cristo. O arquiteto recordou que uma das festas mais importantes da Igreja, a Páscoa, tem na luz um de seus principais símbolos, representado pelo círio pascal.

– A diversidade entre luz e trevas se apresenta nas edificações e ajuda o fiel a entender que o templo também fala com ele, que ele é um peregrino na terra, chamado a sair das trevas e viver na luz. Se em um ambiente escuro você coloca um ponto de luz, a pessoa vai olhar, e isso deve ser explorado na arquitetura da Igreja – analisou Sotero.

O arquiteto pontua que a iluminação nas igrejas brasileiras é quase sempre muito plana e homogênea e que no país há uma tendência em exagerar na iluminação, tanto na quantidade de pontos de luz quanto na intensidade das lâmpadas. Segundo ele, é importante equilibrar a iluminação para que o fiel volte seu olhar ao que realmente interessa durante a celebração ou simplesmente ao entrar em uma Igreja.

– A Igreja é um edifício onde diferentes pessoas se reúnem para encontrar-se com elas mesmas e com Deus. É o lugar do encontro onde tudo se volta para o Cristo. Ele é o centro da atenção. O ambiente da igreja fala, e a própria luz é um elemento que irá conduzir esse olhar do fiel – explicou o arquiteto.

Para configurar melhor a iluminação do espaço da Igreja, Sotero destacou que é preciso pensar que há uma iluminação geral, para todo o ambiente; uma iluminação complementar para pontos específicos, como o ambão, por exemplo, que pede uma luz mais funcional para aquele que lê; e uma iluminação de destaque, que ajuda a ressaltar pontos como imagens e pinturas.

No final da palestra, o arquiteto respondeu às perguntas do público e deu algumas dicas de como melhorar o uso da luz em igrejas já construídas. Embora o ideal seja fazer um projeto de iluminação específico, medidas como trocar as luzes brancas por amarelas, mesmo as lâmpadas fluorescentes, já ajudam a tornar o ambiente mais aconchegante, assim como tentar equilibrar a intensidade da luz na composição do ambiente para conduzir o olhar do fiel para os pontos mais importantes.

Reportagem: Alessandra Cruz