Pastoral Carcerária completa 45 anos de atuação nos presídios do Rio de Janeiro

Um cenário comum de uma velha história: no início deste ano, mais de cem detentos morreram em prisões brasileiras. Só em Manaus, 60 presos foram mortos durante uma rebelião que durou 17 horas, a maior desde Carandiru. Guerras entre facções criminosas, celas superlotadas, 70% de reincidentes e infraestruturas precárias são alguns dos problemas que dificultam a reabilitação dos presos e evidenciam a fragilidade do sistema penitenciário nacional. É dentro desse contexto que a Pastoral Carcerária, através da Palavra de Deus “Estive preso e foste me visitar” (Mt 25,36), atua no Brasil inteiro, levando assistência espiritual a pessoas desprovidas de cuidado e liberdade.

Este ano a Pastoral Carcerária da Arquidiocese do Rio de Janeiro completa 45 anos de atuação. Vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a CNBB, ela atua em 29 presídios localizados no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu; no Instituto Penal Oscar Stevenson, em Benfica; no Presídio Evaristo de Moraes, na Quinta da Boa Vista; no Instituto Penal Cândido Mendes, no Centro; e no Presídio Ary Franco, em Água Santa. São 32 agentes voluntários, dez padres e dois diáconos permanentes.

Poucas pessoas têm vocação para trabalhar dentro do Sistema Carcerário, mas as visitas periódicas são necessárias, e os detentos são muito agradecidos, pois muitos presos não têm família ou a família é de muito longe. Há oito anos responsável pela Pastoral no estado do Rio, padre Roberto Magalhães afirma que a situação das cadeias cariocas tem piorado, pois faltam médicos, defensores públicos, itens de higiene que não são oferecidos pelo governo, e, segundo ele, até a alimentação corre o risco de ser comprometida, pois o Estado não esta pagando os fornecedores. “O panorama é péssimo e de todo o país também. O Brasil recentemente foi denunciado na Corte de Direitos Humanos”, ressaltou o padre.

No trabalho voluntário com os encarcerados, a Pastoral usa a Bíblia e atua seguindo a própria Misericórdia de Jesus.

– A palavra de Deus nos ilumina para termos misericórdia dessas pessoas. Olhamos para esse irmão encarcerado com o olhar de Jesus ao encontrar os pecadores. O próprio Matheus é exemplo disso, pois se apropriava de impostos que não eram dele. Mas Jesus em nenhum momento o acusou, teve compaixão e disse: ‘Matheus hoje eu quero jantar na sua casa, quero sentar-se à mesa contigo. Vem e segue-me.’ É nessa perspectiva que vamos lá, com um olhar de misericórdia e de amor, levar o próprio Cristo vivo para eles – afirmou o religioso.

Segundo o Conselho Nacional de Justiça, o CNJ, a população carcerária brasileira é a terceira maior do mundo. De acordo com dados do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), havia no Brasil 336 mil presos em 2004, dez anos depois esse número quase dobrou: eram 622 mil detentos para 370 mil vagas, em 2014. No Estado do Rio de Janeiro, a taxa de ocupação das penitenciárias está 85% acima da capacidade. A cada quatro ex-condenados um volta a ser preso por algum crime no prazo de cinco anos.

O Artigo 10 da Legislação de Execução Penal brasileira diz: “A assistência ao preso e ao internado como dever do Estado objetiva prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade, estendendo-se esta ao egresso”. A LEP também prevê, entre as atenções básicas prestadas aos presos, assistência médica, psicológica, educacional, jurídica, religiosa, social e material. Entretanto, entre especialistas, predomina a opinião sobre a incapacidade da prisão no que se refere à ressocialização do condenado.

Padre Roberto Magalhães destaca: “Um encarcerado que não retornar à retenção já vale o esforço do trabalho espiritual”. Entre as premissas da Pastoral Carcerária está o respeito à dignidade da pessoa humana, ou seja, tratar o ser humano como fim e não como meio, respeitá-lo em tudo que lhe é próprio: corpo, espírito e liberdade; tratar as pessoas presas como ser humano sem preconceito nem discriminação, acolhendo, perdoando, recuperando a vida e a liberdade de cada um.

– Nosso trabalho é levar a Palavra de Deus para os internos e prestar ajuda humanitária a eles e suas famílias. A presença da Igreja é para acalentar os corações dessas pessoas. Vamos para ver o ser humano que esta lá, que é o próprio Cristo. Deus conhece o coração de cada um. Não vamos lá para olhar o crime que a pessoa cometeu, mas para levar o carinho e amor de Deus através dos nossos gestos e palavras. Eles vivem naquele ambiente difícil e se Deus tocar para que eles não voltem mais para lá, a gente já se sente feliz”, completou Padre Magalhães.

Reportagem: Barbara Tenório

10 Comentários

  1. João Carlos Pereira

    É eu ja sabia, mas Os presídios de policiais não estão recebendo a devida assistência da pastoral, conforme reclamações dos próprios presos. Segundo consegui me informar eles só recebem auxilio daqueles presos que são evangélicos.

  2. Por isso nos mobilizamos para divulgar o trabalho da Pastoral Carcerária, para que mais pessoas sintam o chamado para participar desta missão…

  3. Olá,estou em busca de uma advogada sensível à questão dos presos esquecidos nos presídios .O sobrenome dela seria “Pedrinha” parente de minha professora /UFRJ com este mesmo sobrenome. Estou ligada a um grupo que fará uma mesa-redonda sobre os direitos destes presos/presas e me lembrei desta moça mas não tenho como contatá-la: como fazer? Acho um ABSURDO uma sociedade mal formada que reclama que os presos têm direito até a vasos sanitários e que
    têm a cultura do linchamento…..
    Tenho 80 anos e não gosto de conviver com essas ideias. Como fazer?????
    Atenciosamente alice franca leite /ex-aluna do Colégio Sta Rosa de Lima/RJ //professora aposentada da UFRJ/Letras
    afl37@uol.com.br

  4. Olá, Alice. O ideal seria você procurar a Pastoral Carcerária. Recomendo que você ligue para a Mitra Arquidiocesana e veja com eles uma forma de entrar em contato com a Pastoral. O telefone de lá é 2292-3132. Espero ter ajudado. ‘E, tudo amar e servir’, Alessandra.

  5. DEISE CORREA DA SILVA

    Sou estudante em psicologia.
    E estou interessada em participar deste trabalho como estagiária em psicologia voluntária.Me coloco a disposição.Poço uma vez por semana.

  6. Olá, Deise. Tudo bem? Neste caso seria interessante você buscar contato diretamente com a Pastoral Carcerária. Nós só fizemos a matéria para ajudar a divulgar o trabalho deles. Você pode buscar informações sobre eles ligando para a Mitra Episcopal 2292-3132. Neste número, peça a telefonista para te transferir ou diretamente para a Pastoral Carcerária ou para o Vicariato para a Caridade Social.

  7. Gostaria de agradecer profundamente a Pastoral. Eu estava lá. Por algum motivo Deus deixou que fizessem isso comigo. Fui preso injusta e ilegalmente e fiquei 35 dias. Lá conheci pessoas que estão presas injusta e ilegalmente há 1, 2 anos, e até mais. Prisões preventivas que se tornam cárceres eternos enquanto nem foram julgados ainda. Prisões baseadas no “se”. E se ele for culpado, e se ele atrapalhar a instrução do processo, e se…
    Perdem a dignidade, a esperança; muitas vezes são abandonados pela esposa; a familia se dilacera, a vida social e profissional se dilacera por causa do preconceito, a honra da pessoa acaba. Tudo que foi construído não tem mais valor. De cidadão a preso em uma canetada do delegado, do promotor e do juiz, que se furtam a verdade e as leis e se valem dos menores indícios para incriminar um inocente muitas vezes primário apenas pelo prazer de dizer que prendeu. Assim como o meu caso, vi vários. Vários!!! Li aqui nesse site uma matéria onde se constata que 44% da população carcerária do Rio é presa temporária ou preventivamente, ou seja, é inocente tecnicamente, pois segundo a constituição até que se seja condenado somos inocentes. Ainda assim, ficam presos e misturados com condenados das mais diversas categorias, periculosidade, crimes. Muitas vezes sendo obrigados a se transformar em comparsas para sobreviver à cadeia.
    Apanhar é comum. Dos inspetores da Seap ou de outros presos. Ser humilhado? Isso é diário.
    E ai de você se olhar no olho ou responder um inspetor ou um promotor em vistoria.
    Só Deus é capaz de nos fazer suportar, e mesmo assim, não sei por quanto tempo. Minha filha ficou órfã de uma hora pra outra, minha esposa, minha mãe e meus irmãos TB. Fui sequestrado por um carro da polícia no meio da tarde sem razão de ser e fiquei 25 dias sem poder me comunicar com ninguém. O único que podia falar comigo era meu advogado através de um vidro. Sem podermos inclusive conversar prolongadamente , reservadamente, e trocar documentos, o que fere mais um direito fundamental, o do contraditório. Como nos defender se nem podemos conversar e ver o processo? Como e porque pode ser proibido falarmos com nossos familiares? Fui levar minha filha na escola de manhã e nunca mais ela me viu. Como tirar esse trauma da vida dela e da minha? Como pagar uma fortuna a um advogado para me defender de algo que eu não fiz?
    São centenas de respostas as quais o estado não esta interessado em responder.
    As condições do presídio de Benfica, a triagem, são sub animais. Sub humanas seria elogio. Um escravo valia mais do que um preso vale nessa unidade. Escravos eram comprados. Tinham valor de mercado.
    Termino por aqui. Ligarei para a Pastoral e certamente me engajarei em algum serviço que lute por mudanças. Ainda não sei o que vou fazer ao certo, mas precisamos mudar isso.

  8. Olá, o atual coordenador da Pastoral carcerária aqui no Rio de Janeiro é o padre Roberto Pereira Magalhães. Você pode entrar em contato com ele para voluntariar-se para esse trabalho através do e-mail pereira.magalhaes2009@gmail.com ou ligando para a paróquia Nossa Senhora da Assunção, em Sulacap, da qual ele é o pároco. O telefone de lá é 3357-5150. Caso você não seja aqui do Rio de Janeiro, sugiro que acesse a página da Pastoral para obter informações sobre como atuar no seu estado. O endereço é:

  9. Bom dia gostaria de saber se vocês recebem material como livros revista , artigos religiosos e tenho interesse em ser voluntáris

  10. Oi, Márcia. Tudo bem? Nós costumamos receber algumas revistas religiosas que assinamos pelo correio. Sobre voluntariado, nós temos uma equipe de leigas inacianas que nos auxiliam com a área de espiritualidade.