Uma profunda experiência de encontro com Deus em Exercícios Espirituais

“Aqueles que vivem os Exercícios Espirituais de Santo Inácio de modo autêntico experimentam a atração e a face de Deus, retornam renovados e transformados ao seu cotidiano, ao seu ministério e às suas relações diárias”, declarou o Papa Francisco. Ele é o primeiro Papa jesuíta da história da Igreja e sua eleição atraiu a atenção de muitas pessoas para a espiritualidade inaciana. Nesta entrevista, o padre José Maria Fernandes, SJ, Diretor do Centro Loyola, explica o que são os Exercícios Espirituais de Santo Inácio e convida àqueles que desejam viver uma profunda experiência de encontro com Deus a fazer um dos retiros oferecidos pela casa.

O que é a Espiritualidade Inaciana?
Padre José Maria Fernandes:
Toda espiritualidade, seja ela redentorista, franciscana, etc, visa colocar a pessoa em comunhão com Deus. O que é diferente na espiritualidade inaciana são as regras do discernimento. Essa é a marca registrada dos Exercícios Espirituais, um modo de oração em que eu vou discernindo, na expressão de Inácio, as consolações e as desolações, no intuito de ir conhecendo o que Deus quer na minha vida. Muitas vezes as pessoas perguntam: “Como eu posso fazer a vontade do Senhor?” Essa pergunta também Inácio fez: “Qual a melhor maneira de servir ao Senhor?” Ele teve contato com alguns livros sobre a vida de Cristo e a vida dos santos, e isso mexeu muito com ele. Ele começou a imaginar se São Bernardo conseguiu isso, eu posso fazer também… Se São Francisco conseguiu isso, eu também posso fazer, e assim sucessivamente, mas não fazer como os santos fizeram, Inácio quis ir descobrindo a vontade de Deus nele.

Pode-se dizer que a Espiritualidade Inaciana trabalha com o autoconhecimento?
Padre Fernandes:
Inácio vai falar das afeições desordenadas que estão em nós. O que é uma afeição desordenada? Se você colocar óculos com lente verde, como é que você vai ver o mundo? Todo esverdeado. Você vai chegar perto de mim e dizer: “Esta camisa verde clara ficou muito bem em você”. Eu vou te dizer que não é verde, é branca. Afeição desordenada é isso. Eu enxergo o mundo, as pessoas, acontecimentos e situações a partir da desordem afetiva que existe em mim. Inácio é bem explícito nisso, os Exercícios são para que a pessoa coloque ordem nos seus afetos e, a partir daí, possa compreender a vontade de Deus, porque muitas vezes Deus está mostrando um caminho através de situações, pessoas, filmes, livros, etc, mas na minha ótica eu estou vendo distorcido, não consigo perceber a vontade de Deus em mim. Uma vez que eu coloco ordem no meu interior, começo a ter a noção exata das coisas.

Em que circunstâncias Inácio desenvolveu os Exercícios?
Padre Fernandes:
No final da Idade Média, era comum as famílias mandarem seus filhos para uma família nobre de renome para serem treinados nas artes da cavalaria, no manejo da espada, etc, e Inácio participou disso. Ele foi formado como um cavaleiro. E um cavaleiro, depois da sua formação, se dispõe livremente a defender a honra da família que o criou. É uma expressão que se usa até hoje “palavra de cavaleiro”. Esse é o espirito que está por trás de Inácio. Ele é ferido quando as tropas francesas invadem Pamplona, onde foi chamado a defender a honra da família. Depois de ferido, ele foi levado para a casa e passou por uma cirurgia no joelho, mas ficou com um defeito na perna. Ele conta em sua autobiografia que, por pura vaidade, se submeteu a quebrar a perna novamente para poder consertar o osso, e isso foi feito a frio, sem anestesia. Com isso, a convalescência dele foi muito sofrida, teve uma febre altíssima e, às vésperas da festa de São Pedro e São Paulo, os médicos disseram que se a febre não cedesse até o dia seguinte nada mais poderia ser feito. Nesta noite, Inácio empenha sua palavra a Deus de que iria mudar de vida, a partir das leituras que tinha feito da vida de São Bernardo, São Francisco e de Cristo. Olha aí a alma do cavaleiro que estava lá por trás: ele empenha sua palavra, faz uma promessa e, milagre ou não, amanheceu o dia de São Pedro completamente sem febre. A partir dali Inácio vive todo um processo de autoconhecimento. É a partir dessa experiência, da leitura do que está se passando, que ele faz anotações. Posteriormente, Inácio percebe a mudança e fica a dúvida: “Será que é só comigo?”. Vem a época da Reforma, das descobertas, do espírito da Renascença, e Inácio intui que para compreender as mudanças profundas que estão acontecendo, ele precisa preparar-se. Ele vai para a Universidade de Paris, onde é colocado num quarto, junto com o primo dele Francisco Xavier, que é também um bon vivant. E Inácio começa a discutir com ele, de onde sai a frase famosa: “De que adianta ganhar o mundo e perder a alma?” E propõe fazer uma experiência. Depois de tantas investidas, Francisco Xavier acolhe a proposta. E a mudança que aconteceu com ele acontece com Francisco. Inácio percebe que tem o dedo de Deus ali e revisa as anotações, deixando para a humanidade o que nós chamamos Exercícios Espirituais.

Por que ele escolheu o nome Exercícios Espirituais?
Padre Fernandes:
Porque é exatamente isso, um exercício que eu faço no Espírito. Apesar de ser um método bem rigoroso, Inácio deixa um sabor de liberdade. Não sou nem estou obrigado a fazer aquilo, mas se eu quero atingir um objetivo, me obrigo a fazer. É igual ao atleta que vai disputar uma olimpíada. Se for da natação, tem um tipo de exercício, se for do vôlei tem outro tipo. Para cada modalidade existe um exercício. Se você quer se conhecer espiritualmente, também tem que se propor a fazer um exercício a partir da sua vida, da sua situação concreta diante da Palavra de Deus. Essa é a proposta: colocar a sua vida diante da palavra de Deus, e a palavra de Deus trazer respostas à sua vida. Leva o tempo de uma vida, porque continuamente a vida vai mudando e trazendo novas perguntas que vão exigir novas respostas. Eu não paro de me exercitar nunca.

Como é a rotina de Exercícios proposta por Santo Inácio?
Padre Fernandes:
Ele cria um método e divide em etapas, com o nome de semana. Não que seja uma semana de sete dias exatamente. São etapas com modalidades diversas de orações: oração de consideração, de reflexão, de meditação e contemplativa. Ao longo dos exercícios, quem está orientando vai facilitando para o exercitante os caminhos da oração e ajudando nas dificuldades que, por vezes, confundem as pessoas.

E qual é o trabalho que o Centro Loyola desenvolve dentro da Espiritualidade Inaciana?
Padre Fernandes:
O Centro Loyola de Fé e Cultura tem por objetivo estabelecer um diálogo entre a razão e a emoção, contribuindo para a formação da pessoa. A razão que provém de todas as dimensões culturais, da ciência e da sociedade; e a emoção, fruto da fé e espiritualidades distintas, formas de oração, etc. Um diálogo que é tão fundamental: razão e emoção, fé e cultura. Nessa dimensão de fé, olho para a minha vida, que está marcada pela cultura, pelo tempo, por uma situação, por um acontecimento. Como vou lidar com isso? A cada passo que a ciência e a cultura dão, vem um novo desafio para mim. Se fico parado lá atrás, naquela catequese da infância, não vou entender as coisas, instala-se uma confusão. A espiritualidade tem que acompanhar os avanços técnicos, científicos, culturais, para a pessoa poder ir se situando dentro disso e não se perder. Basta olhar a experiência de Inácio lá atrás, no Renascimento. Imagine a descoberta de um mundo novo! Como isso deve ter afetado a velha Europa? É essa a grande experiência de Inácio, relacionada com a fé de uma Igreja que está dividida, sendo afetada por uma cultura onde acontecem novas descobertas, novos sentidos. O mundo está em ebulição. Por isso mesmo é uma espiritualidade profundamente leiga, porque Inácio faz tudo isso como leigo. Posteriormente, através do discernimento é que ele vai perceber a necessidade de um compromisso religioso.

Qualquer pessoa pode praticar os Exercícios?
Padre Fernandes:
Qualquer pessoa que queira participar do processo. O Centro Loyola oferece várias modalidades dos exercícios para a pessoa ir gradualmente entrando na espiritualidade. Tem os retiros de iniciação, retiros temáticos, o retiro que se faz na vida, onde a pessoa não precisa ir para um local específico. Você vai fazer na vida, sendo acompanhado por um guia espiritual. Os Exercícios mesmo, na sua plenitude, são feitos ao longo de 30 dias. A pessoa se isola por um mês, em silêncio, e tem um acompanhamento espiritual no qual vai se conhecendo atráves da Palavra de Deus. A partir desse método dos 30 dias vieram as variações, os de oito dias, os de etapas ao longo do ano. Santo Inácio coloca um método e faz suas anotações dizendo que se uma pessoa quiser fazer a experiência, façam-se as devidas adaptações para essa pessoa, de acordo com a necessidade. Às vezes, quero fazer, mas trabalho e não tenho como, tenho que olhar a minha família, tenho isso ou aquilo, então começaram a ser feitas adaptações para atender as necessidades das pessoas interessadas.

Como o silêncio entra nesse processo?
Padre Fernandes:
O silêncio é importante para a pessoa ir percebendo as nuances que Deus vai trazendo para ela. Começa de uma forma muito sutil, depois vai clareando: “Deus quer que eu vá por aqui”. A pessoa dá o primeiro passo, confia e aí vai em frente. Já ouvi algumas críticas à espiritualidade inaciana de que é muito individualista. Sim! Quem vive a sua vida é você, e só você tem que dar conta disso! Agora é uma individualidade que, quando a pessoa percebe quem é, percebe que não está sozinha, está inserida em uma sociedade e uma família, começa a compreender as atitudes das outras pessoas e vai se adaptando a um modo de ser mais adequado a cada situação.

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3 Comentários

  1. Ronnievon Ramalho de Souza

    E bom eu fiz oficina de orações e ótimo nunca mais vou esquecer.

  2. Ronnievon Ramalho de Souza

    E de grande valor em nossas vidas .hoje sirvo a igreja com mais alegria e recomendo a todos a oficina de oração

  3. Ronnievon Ramalho de Souza

    E de grande valor em nossas vidas .hoje sirvo a igreja com mais alegria e recomendo a todos a oficina de oração