CVX Brasil celebra 40 anos de Vida em Comunidade

Em 2017, a Comunidade de Vida Cristã celebra 50 anos de existência no mundo e 40 anos de presença no Brasil. Mais conhecida como CVX, essa comunidade de leigos está organizada mundialmente em pequenos grupos, com no máximo 12 membros, que se reúnem em encontros de oração e partilha, baseados na Espiritualidade Inaciana. Nesta entrevista, Rutinéa Jordão, atual coordenadora da Regional Rio, fala um pouco sobre a história da CVX, os encontros e como são formados novos grupos.

O que é CVX e como esse movimento começou?
Rutinéa Jordão:
A CVX é uma associação internacional de cristãos, homens e mulheres, adultos e jovens, de todas as condições sociais, que tem nos seus princípios gerais o desejo de seguir Jesus Cristo mais de perto e trabalhar com ele na construção do Reino. É uma comunidade mundial, existente em mais de 60 países e tem seu início a partir de 1957.

Como se forma cada grupo?
Rutinéa:
Atualmente, a gente começa com a apresentação da proposta da CVX nos finais dos retiros, dos encontros, em dias de oração, quase se apresenta a CVX coletivamente, ou já existindo uma comunidade, se alguma pessoa quiser participar, ela é convidada a participar de uma reunião e ver se é isso que ela quer. Os grupos novos começam como pré-CVX. Às vezes até antes, como um grupo com um orientador, alguém que tem conhecimentos sobre os Exercícios. A CVX está baseada nos Exercícios Espirituais de Santo Inácio, na Missão e na Vida em Comunidade. Então normalmente ou as pessoas começam juntas como um grupo ou elas são introduzidas a partir alguém que já conhece, que já vive em uma comunidade e traz um membro novo para participar.

Então qualquer pessoas que tenha tido algum contato com a Espiritualidade Inaciana pode ser inserida em um desses grupos ou começar um grupo novo tendo a presença de um assessor?
Rutinéa:
Isso, um assessor que já experimentou a Espiritualidade Inaciana e que tenha uma disponibilidade para acompanhar. Normalmente as comunidades se reúnem semanalmente ou até de 15 em 15 dias para partilhar vida, oração, a missão cristã. A proposta é a construção do Reino de Deus.

E como são esses encontros?
Rutinéa:
Normalmente as reuniões começam com orações habituais. Cada comunidade tem a sua maneira de começar. Ou faz uma partilha bíblica, lê o texto do Evangelho ou um texto previamente escolhido pelo grupo. Todo grupo tem um coordenador, então o coordenador, junto com o assessor, prepara as reuniões. Esse coordenador muda de dois em dois anos ou de tempos em tempos, não tem uma regra fixa. E eles preparam as reuniões que normalmente começam com uma oração, uma partilha de vida ou de oração. Por exemplo, nós estamos na época quaresmal, então as pessoas têm partilhado o que rezaram no retiro quaresmal, seus sentimentos, a sua vivência disso. Em seguida tem um tema, que pode ser da escolha da comunidade. Normalmente as comunidades fazem uma programação trimestral ou semestral. Nesse período nós estamos vivendo além do tempo da Quaresma, o nosso Dia Mundial da CVX, e a CVX Mundial propõe um tema para essa época. As nossas reuniões duram em torno de uma hora e meia ou duas, e no final as pessoas concluem com as suas orações pessoais também. Se tiverem alguma missão, partilham essa missão com as suas propostas… se é Dia de Oração, se é missão num asilo, se é missão com catequese, cada uma do seu modo. Às vezes os membros individuais têm missões, e os outros apoiam a missão desse colega, desse companheiro.

Existe um vínculo paroquial na CVX?
Rutinéa:
Necessariamente não. Nós até tempos comunidades que estão vivenciando em conjunto uma missão na sua paróquia, por exemplo a Comunidade Shalom, que é lá de Padre Miguel na Zona Oeste, eles têm um vínculo na paróquia deles, mas necessariamente não. São grupos independentes, que se reúnem ou na sede da CVX, ou na casa de algum membro ou na casa do Assessor. São bem livres neste sentido.

E como é essa relação da CVX com a Espiritualidade Inaciana?
Rutinéa:
Nos nossos princípios gerais, nas nossas normas constitutivas, todo membro CVX tem que participar de pelo menos um retiro inaciano anual ou bianual, fazer os Exercícios, ter uma missão e a partilha da vida em comunidade. A vivência dos sacramentos também é importante, e não precisa ser em conjunto com a comunidade. Normalmente as comunidades celebram, por exemplo, Páscoa, Natal… São tempos fortes da Igreja. Eu participo do Regional Rio. O Regional faz algumas atividades em conjunto, reúne as comunidades. Então nós tivemos uma peregrinação ao Santuário de Schoenstatt, aí nós convidamos os membros das comunidades. Nós vamos ter uma esse ano à Aparecida. Todo ano nós temos um encontro para todas as comunidades, temos tardes de formação com temas ligados a CVX.

E como está organizada a CVX aqui no Rio de Janeiro?
Rutinéa:
Nós somos o Regional Rio. Temos 19 comunidades e uma pré-comunidade que se associou agora. Então eles vão rezar, se reunir durante dois anos e analisar se querem se tornar comunidade ou não. É feito todo um protocolo para isso. Hoje nós temos 19 comunidades em andamento, elas têm entre 8 e 12 pessoas, o ideal, não que não possa ser menos ou mais. E algum grupo que queira conhecer a proposta, nós temos dias de apresentação, nós podemos ir também com a nossa equipe de divulgação, ao final dos retiros, apresentar o que é a CVX.

Vocês estão celebrando 40 anos das comunidades, quais são os desafios daqui pra frente?
Rutinéa:
Na verdade são 40 anos da CVX no Brasil e 50 anos da CVX mundial. Como lembrou o padre Klein no nosso último encontro, a gente costuma dizer que a vida começa aos 40, e nós renascemos aos 40 com um copo robusto e novas ações e missões. O desafio agora é trabalhar as nossas fronteiras: Família, Juventude, Globalização e Pobreza e Ecologia. Dentro dessas quatro fronteiras, a CVX procura ter alguma atividade, alguma missão. Então agora é fortalecer esses caminhos. Nós criamos o secretariado de juventude, porque para a comunidade continuar crescendo, ela tem que rejuvenescer. Hoje os nossos desafios são formação de assessores, formação dos membros, divulgar a CVX para a juventude, porque é um caminho bom a espiritualidade inaciana.

O que você diria às pessoas que querem conhecer melhor a Espiritualidade Inaciana e a CVX?
Rutinéa:
Inácio tinha uma preocupação muito grande com salvar as almas. Naquela época da Idade Média, o mundo vivia muitas guerras, não que não tenhamos isso hoje. É muito semelhante, parecido. Então o que a CVX oferece é essa espiritualidade inaciana, a vida em comunidade. Eu particularmente fui muito tocada por isso, eu tinha essa necessidade de viver em comunidade. A minha comunidade já existe há 28 anos. A proposta é ser amigos no Senhor, partilhar a vida, a fé, a missão e a oração, e é uma coisa muito íntima. As pessoas têm que estar disponíveis a esses elos, a criar esses laços e evangelizar. Isso é o importante, o que era para Inácio salvar as almas e evangelizar, levando Cristo aos outros.