Os relatos de Anchieta e os primórdios do Rio

No último sábado, 6 de junho, o Centro Loyola promoveu um encontro para homenagear São José de Anchieta, conhecido como Apóstolo do Brasil. Canonizado há pouco mais de um ano, Anchieta acompanhou de perto a fundação da cidade do Rio de Janeiro. Os feitos de Mém de Sá para expulsar os invasores franceses e fundar a cidade inspiraram o primeiro livro publicado pelo padre, considerado também o primeiro poema impresso da literatura brasileira, intitulado De Gestis Mendis Saa. Na homenagem promovida pelo Centro Loyola, Gilda Carvalho, mestre em Literatura Brasileira pela PUC-Rio, falou sobre a atuação política dos jesuítas na fundação da cidade e, em especial, os relatos de Anchieta.
Após a palestra houve a celebração da Santa Missa, presidida pelo padre José Maria Fernandes, Diretor do Centro Loyola, que abençoou e distribuiu garrafinhas com água benta retirada do Poço de Anchieta.

Três Visões sobre a Justiça e a Impunidade

Assaltos seguidos de assassinatos, escândalos de corrupção, violência contra menores. Enquanto os índices de criminalidade aumentam, falta punição para os culpados e fica a sensação de que não há justiça no Brasil. Para debater a questão, o Centro Loyola organizou, no dia 20 de maio, um seminário com Adolfo Borges, Procurador do Ministério Público Estadual do RJ e professor do Departamento de Direito da PUC-Rio, Marco Antônio Bonelli, também professor da PUC no setor de Cultura Religiosa, e a psicóloga Vivian Moreno. Os três discutiram os impasses e desafios do tema Justiça X Impunidade sob as óticas jurídica, teológica e psicológica.

Cerca de 50 pessoas participaram do encontro, no campus da PUC. Primeiro a falar, professor Adolfo Borges destacou que a grande questão em relação à impunidade é a falta de justiça social. Ele apontou a situação precária das cadeias e penitenciárias do país e a falta de perspectiva de recuperação para os presos, que muitas vezes, antes de chegarem ao crime, foram crianças e adolescentes desprovidos de direitos humanos básicos, como ter uma família, educação, moradia, etc: “Como ressocializar o que nunca foi socializado?”, questionou. O professor destacou também outros entraves à justiça, como a morosidade dos processos, a falta de preparo da polícia e de perícia adequada, além da desigualdade no próprio sistema judiciário que pune mais depressa os pobres do que os ricos. A solução apontada por ele foi a mobilização da sociedade para cobrar do governo mais atuação social que ajude a diminuir a criminalidade.

Em seguida, a psicóloga Vivian Moreno iniciou a sua fala a partir do preâmbulo da Constituição Federal de 1988, que traz a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos. A partir daí, ela descreveu um ciclo de exclusão que gera a violência e apontou a conscientização como ponto mais importante para a promoção da justiça: “O fator que gera toda a impunidade é a falta de consciência”, avaliou.

Último a falar, o professor Marco Antônio Bonelli apresentou fundamentos teológicos para uma reflexão cristã sobre o tema. Segundo ele, a justiça é um valor presente em toda a Sagrada Escritura, desde o Antigo Testamento há deveres dos indivíduos uns para com os outros e em relação a Deus, muitas vezes apontado como juiz ou mesmo como o próprio Deus-Justiça (Sl 7). O professor explicou que, a partir do Novo Testamento, Jesus se coloca ao mesmo tempo como defensor e transgressor da lei. Ele reescreve sentido da justiça no coração das pessoas, sabe que a lei e a justiça são importantes, mas entende que é possível, em alguns casos, gerar uma situação injusta aplicando a lei. Para Bonelli, Jesus mostra que existe algo mais sagrado do que a religião e o altar, o ser humano (Mt 5, 21-25) e ressaltou: “É preciso uma profunda conversão, não necessariamente para uma religião, mas de querer o bem do outro. Sem uma experiência profunda de valor da dignidade humana, não há lei que resista”. Bonelli mostrou algumas iniciativas para recuperar pessoas que cometeram delitos, como um centro que reabilita agressores de mulheres. De acordo com ele, resgatar a dignidade humana pode ser a chave para a mudança: “Se a ideia de recuperação da dignidade humana é para ser levada a sério, o que todos nós podemos fazer para que esse cara volte à vida em sociedade?”, provocou.

Mães e Filhos reunidos para celebrar o dia delas

O Dia das Mães foi comemorado no Centro Loyola com uma Missa na Capela São José de Anchieta, celebrada pelo padre José Maria Fernandes, SJ. Durante a homilia, padre Fernandes recordou a preocupação que as mães sobre os problemas que o mundo enfrenta hoje. Segundo ele, apesar de todo o mal que vemos, é preciso manter a esperança e perceber que há muitas coisas boas ao nosso redor: “É como essa parede atrás de mim, perfeitamente pintada e limpa. Se cai um pingo de sujeira nesta parede e eu pergunto o que você está vendo, certamente você responderá sobre essa mancha, ignorando o que está bom e perfeito ao redor dela. Precisamos ver o mundo assim, para além das manchas”, explicou.

Durante a cerimônia, padre Fernandes convidou os participantes a rezarem pelas mães presentes e ausentes e por aquelas que já faleceram. Após a Missa, houve uma pequena confraternização com a mães e crianças que participaram.

Dons do Espírito Inspiram Retiro Inaciano para Jovens

Dando continuação aos retiros temáticos a partir da espiritualidade inaciana, no último dia 1 de maio, o Centro Loyola promoveu um encontro de Preparação para Pentecostes com dezessete jovens de diferentes partes do Rio de Janeiro. Durante o dia, eles vivenciaram momentos de leitura, reflexão, contemplação e partilha, nos quais rezaram os dons do Espírito Santo e puderam conhecer mais sobre a vida de Santo Inácio de Loyola e os Exercícios Espirituais.

O retiro contou com o apoio de jovens da Rede Inaciana de Oração, da CVX Amar e Servir e da Equipe dos Exercícios para os Jovens. De acordo com Rodrigo Policeno, assessor de Espiritualidade do Centro Loyola, o encontro inaugurou um novo olhar da casa para a juventude: “Queremos trabalhar a espiritualidade com os jovens e para os jovens. Além do padre Paul, foram os jovens que animaram o retiro”, destacou. A ideia, segundo ele, é abrir cada vez mais as portas da casa para a juventude realizar suas atividades.

Os Saberes e Sabores da Páscoa Judaica e da Páscoa Cristã

A festa da Páscoa no Centro Loyola trouxe mais uma edição da série Saberes e Sabores. No encontro, que reuniu cerca de 60 participantes dia 9 de abril, frei Isidoro Mazzarolo apresentou a simbologia da páscoa judaica em contraponto com a páscoa cristã, destacando os elementos mais importantes das duas tradições.

Um dos símbolos mais representativos da páscoa judaica é o cordeiro. Frei Mazzarolo explicou que este símbolo continua na páscoa cristã, porém o cordeiro agora não é mais um animal e sim a própria pessoa que se oferece a Deus: “Se Jesus se fez cordeiro, se fez oferta, o cristão tem que se fazer oferta. Aquele que faz a oferta se coloca no altar. O cristão é novo cordeiro que vai assumir sua Páscoa”.

Frei Mazzarolo também explicou que a páscoa cristã renova o sentido de passagem e libertação da páscoa judaica. Segundo ele, a páscoa cristã traz um compromisso existencial, de uma aliança que compromete o proponente à sua conversão e transformação:

– Nós fazemos memória dos fatos sim, mas quando um cristão rememora e reencena a páscoa de Jesus, olha para trás, mas reconstitui na atualidade o sentido dessa páscoa, da forma como Jesus amou o mundo. O cristão é convidado a amar como Jesus – destacou.

Após a palestra, como é proposto na série Saberes e Sabores, os participantes foram convidados a degustar alguns alimentos que fazem parte da tradição da páscoa, como as ervas amargas, o cordeiro, o charosset (um doce feito com maçãs e uvas) e pães. Todos ficaram encantados com o sabor do cordeiro e surpresos com o frescor das ervas. Por isso, compartilhamos as receitas, para quem quiser prepará-las em casa:

Mix de Ervas Amargas
Ingredientes: almeirão roxo, almeirão verde, chicória, azedinha, hortelã, agrião, rúcula, manjericão, azeite e flor de sal.
Modo de Preparo: Picar todas as ervas bem finas e deixar marinar em azeite (quantidade suficiente para umedecer todas as folhas) e sal à gosto.

Tempero para o Cordeiro:
Ingredientes: cebola ralada, sal grosso, limão siciliano e vinho tinto seco de boa qualidade. Regar a carne do cordeiro com essa mistura e deixar na geladeira de um dia para o outro, para que os sabores penetrem. Assar em forno com este caldo. A quantidade de temperos e o tempo de cozimento dependerá do tamanho do cordeiro ou das partes do cordeiro que serão assadas.

‘A grande formação do catequista é sua experiência com Jesus’

Segundo estimativa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, nas comunidades do país há aproximadamente 850 mil catequistas. Destes cerca de 820 mil são mulheres. Geralmente pessoas simples, sem formação em teologia e pedagogia, que abraçam com amor a responsabilidade de educar na fé. Nesta entrevista, o padre Eduardo Calandro, que de 15 a 18 …

Um passeio pela Arte e pela História dos Jesuítas no Rio de Janeiro

Em março, o Rio de Janeiro completou 450 anos de fundação, e não faltam na cidade lugares que guardam detalhes importantes dessa história. Por isso, o Centro Loyola de Fé e Cultura PUC-Rio organizou, na manhã do dia 21, um curso-tour sobre a arte e a arquitetura jesuítica no Rio de Janeiro, com a professora Anna Maria Monteiro de Carvalho, Doutora em História da Arte pela Universidade de Coimbra.

O curso começou na sede do Centro Loyola, onde a professora deu uma aula sobre a ação missionária dos jesuítas na cidade e explicou um pouco sobre os locais e as obras de arte que seriam visitados em seguida.

– Desde que chegaram à colônia, em março de 1549, com a comitiva de Tomé de Souza, no processo de centralização do país num Governo Geral e fundação de cidades, esses religiosos foram abrindo estabelecimentos de ensino, junto às Igrejas, residências, propriedades rurais e aldeamentos – explicou Anna Maria durante a aula.

Ela destacou ainda como no Rio de Janeiro três morros formavam uma espécie de triângulo da dominação religiosa: o Morro do Castelo, com os jesuítas; o Morro de São Bento, com os beneditinos; e o Morro de Santo Antônio, com os franciscanos. Diante do desenvolvimento da cidade no século XVIII e da monumentalidade religiosa que se fazia presente após a construção dos conventos de São Bento e Santo Antônio, os jesuítas decidiram construir no morro do Castelo, onde já havia o colégio e Igreja de Santo Inácio, uma Igreja monumental, cuja pedra fundamental foi lançada em 1744. No entanto a obra jamais foi concluída, porque em 1759 os jesuítas foram expulsos da colônia. Três grandiosas esculturas em madeira que iriam compor as obras de arte da nova Igreja estão hoje no saguão de entrada do Colégio Santo Inácio, em Botafogo, e foram visitadas pelos alunos do curso. Elas trazem a representação do Cristo pregado na cruz com Nossa Senhora e São João Evangelista a seus pés.

Outro ponto visitado durante o tour foi a Igreja Nossa Senhora do Bonsucesso, junto ao que restou da Ladeira da Misericórdia, no Centro do Rio. A pequena igrejinha guarda dois retábulos maneiristas, que fizeram parte da antiga Igreja de Santo Inácio, demolida junto com o morro do Castelo. Segundo a professora Anna Maria, muito da história da cidade se perdeu com a demolição em 1922: “Destruímos a história dos nossos começos. Considero um crime contra o nosso patrimônio e tudo aquilo que representou o início do Rio de Janeiro”, desabafou.

O grupo visitou ainda o hospital Frei Antônio, em São Cristóvão. O lugar foi sede de uma das fazendas dos jesuítas na colônia e tornou-se um leprosário quando os religiosos foram expulsos da cidade. Parte do prédio foi descaracterizada com o passar do tempo, mas ainda é possível encontrar traços da ocupação dos jesuítas na capela do segundo andar e na fachada voltada para um pequeno cais onde o mar chegava antes dos aterros que foram feitos na região. Segundo Waldemar Moreira, Administrador do Complexo do Hospital Frei Antônio, muitos leprosos montavam tendas na praia de São Cristóvão, próxima à fazenda dos jesuítas com a intenção de isolar-se e acabavam sendo acolhidos pelos religiosos. Assim, o lugar recebeu muitos doentes antes mesmo de tornar-se um hospital.

Ao final do passeio, padre Fernandes, Diretor do Centro Loyola, convidou os participantes para o próximo curso-tour a ser organizado pelo Centro Loyola no segundo semestre e que terá como tema as históricas igrejas franciscanas no Rio de Janeiro.

Palestra inaugura parceria entre Centro Loyola e Livraria Paulus

No dia 19 de março, o Centro Loyola inaugurou uma parceria com a Paulus para a organização de palestras no espaço da livraria, no Centro da Cidade. A ideia é promover atividades curtas durante a semana, sempre no horário do almoço, que possam ser aproveitadas por quem trabalha perto ou esteja de passagem pelo Centro. O primeiro encontro trouxe o tema ‘Por Que Coisas Ruins Acontecem a Pessoas Boas?’, apresentado por Eduardo Rosa Pedreira, Doutor em Teologia pela PUC-Rio e pastor da Comunidade Presbiteriana da Barra da Tijuca.

Durante a palestra, Pedreira comentou que por melhores que sejamos não temos como evitar que coisas ruins nos aconteçam, somos seres vulneráveis, e até podemos questionar: “A que se presta um Deus que não evita o nosso sofrimento? Segundo o pastor, é justamente a fé que Deus está conosco nesses momentos e nos sentirmos amados por Ele que pode nos ajudar a lidar com essas questões, para que as superemos com mais facilidade.

Atualmente, o pastor Eduardo Pedreira está ministrando o curso Deus Há de Ser Amado.

Exposição de Crucifixos recebe milhares de visitantes na Catedral

Diariamente, a Catedral Metropolitana de São Sebastião do Rio de Janeiro recebe cerca de 700 visitantes. Além dos turistas que chegam por conta própria ou em roteiros organizados por agências, há também os moradores da cidade que procuram a Catedral para fazer suas orações em meio ao burburinho do Centro do Rio. Durante o mês …

Diálogo Inter-Religioso: Desmistificando o Islã

Uma jovem cristã é violentada e morre com um crucifixo enterrado na garganta. A história circulou na internet como um ato praticado por muçulmanos, mas de acordo com o site E-farsas, no qual os autores dedicam-se a desvendar os boatos que povoam o mundo virtual, a cena chocante é do filme canadense Inner Depravity, de 2005. Mesmo falso, o boato foi compartilhado milhares de vezes e ajudou a denegrir ainda mais a imagem do Islã no mundo ocidental. Associada à violência e ao terror, a religião é cada vez mais alvo de discriminação por parte de quem não conhece os seus preceitos. Para desmistificar essa imagem e promover o diálogo inter-religioso, o Centro Loyola organizou, no dia 7 de março, uma palestra com Sami Armed Isbelle, Diretor do Departamento Educacional da Sociedade Beneficente Muçulmana do Rio de Janeiro.

Logo no início do encontro, Isbelle explicou o que significa Islã e destacou a intenção de corrigir as distorções que nos chegam através da mídia. Segundo ele, o primeiro pilar do islamismo é a crença no Deus único, que não é um deus diferente daquele no qual creem os cristãos ou mesmo os judeus. Allah é a palavra em árabe que designa Deus, da mesma forma que God significa Deus em inglês.

– Os muçulmanos gostam de usar essa palavra em árabe porque ela tem nesta língua uma característica que a gente não encontra em nenhum outro idioma: não aceita gênero, nem número, nem grau. Se eu quiser me referir a deusa ou deuses em árabe, vou usar outras palavras. Allah é o Deus único. Nós acreditamos que ele é o único que sustenta e provem todo esse universo – destacou Isbelle, que explicou ainda sobre a crença dos muçulmanos nos anjos, nos profetas e mensageiros, no juízo final e no decreto divino.

Isbelle também destacou que Jesus Cristo pra os muçulmanos não era o filho de Deus, mas foi um grande profeta e mensageiro, que nasceu através de um milagre, através da Virgem Maria: “Para nós muçulmanos, a Virgem Maria é considerada a mulher mais pura que Deus criou”.

De acordo com Isbelle, a religião para os muçulmanos é um sistema de vida completo, que vai além da relação com Deus e se estende para as práticas diárias. Tudo o que um muçulmano faz que seja lícito é uma forma de adoração, e isso envolve gestos simples, como trabalhar e alimentar-se. A prática muçulmana inclui o testemunho da fé, a oração cinco vezes ao dia, o jejum no mês do Ramadan, a purificação e a peregrinação à Caaba, em Meca. Há ainda para eles a questão do Jihad, que a mídia tem associado às práticas terroristas, mas que, segundo Isbelle, seriam o empenho e esforço que todo muçulmano faz individualmente para agradar a Deus e afastar o que o desagrada (Jihad maior) e o esforço e empenho em relação a terceiros (Jihad menor).

– Toda vez que eu falo em Jihad, estou falando em empenho e esforço. Toda vez que vocês escutam falar em Jihad por aí falam em guerra santa. Essa é uma expressão que nunca foi mencionada nem no Alcorão, nem na Sunna do Profeta Mohammad, nem em nenhum livro de história islâmica. A palavra em árabe para guerra santa é outra. Essa expressão é completamente distante e alheia ao Islã. A tradução correta de Jihad é empenho e esforço – explicou Isbelle.

Isbelle reconheceu que dentro do Jihad menor existe a figura de combate, mas destacou que ela seria usada sempre em caráter defensivo, ou seja, se um muçulmano sofre uma agressão, ele teria o direito de defender-se. E ressaltou que, apesar disso, o Islã incentiva que se possa devolver uma agressão com uma boa ação, mas que nem sempre isso é possível. Ele citou casos como o de um país que invade o outro, no qual a população teria o direito de defender sua família e sua casa:

– Deus nos orienta a não iniciarmos qualquer tipo de agressão ou de hostilidade, nem violarmos os direitos das outras pessoas. Eu não posso de forma alguma iniciar um ato de violência e se fizer isso estou cometendo um pecado. O Jihad na forma de combate é somente para autodefesa e qualquer coisa contrária a isso vai contra os ensinamentos do Islã. “Combatei pela causa de Deus aqueles que vos combatem, porém não pratiqueis agressão, porque Deus não estima os agressores” (2:190).

Segundo o palestrante, o Islã antecipou, inclusive, pontos que foram tratados séculos depois na Convenção de Genebra. Entre os limites que um muçulmano deve respeitar, mesmo em uma guerra, estão: nunca matar pessoas inocentes que não estão em combate e não estão portando uma arma contra você; nunca torturar prisioneiros de guerra; nunca matar animais a não ser para se alimentar; não causar prejuízos e danos a mulheres, crianças e idosos; sempre enterrar os mortos com respeito, entre outros.

Sobre o terrorismo, Isbelle lembrou que diversos grupos de diferentes denominações já usaram a religião como justificativa para praticar o terror e citou casos como o da Ku Klux Klan que defendia a supremacia do protestantismo sobre o catolicismo e outras religiões e perseguia negros, judeus, muçulmanos e asiáticos; o atentado praticado em Oslo, em 2011, por Anders Behring, fundamentalista cristão de extrema direita; as ações do IRA na Irlanda, que promoveu um violento conflito entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte; e o ataque de budistas contra muçulmanos em Mianmar, entre outros. Para ele isso mostra que o terrorismo não tem religião e que é preciso separar as duas coisas.

Nas ações do grupo Estado Islâmico, por exemplo, Isbelle analisou que não existe apenas a questão religiosa envolvida, mas que há um contexto geopolítico por trás. Ele frisou ainda que muito do que o Estado Islâmico pratica vai diretamente contra os preceitos do Islã e que há muitos estrangeiros aderindo ao grupo. Para explicar, o palestrante usou uma história do profeta Mohammad, na qual ele encontra pessoas que tinham queimado um formigueiro e diz a elas: “ninguém pode castigar com fogo a não ser o senhor do fogo”:

– Ele está condenando terem queimado formigas em um formigueiro. Ele falou que é proibido queimar até um inseto, quem dirá um ser humano. Então um grupo desses que aparece na mídia queimando uma pessoa viva e fala que isso é o Islã e desconhece esse dito, que é extremamente conhecido, até crianças sabem que não podem queimar, torturar ninguém com fogo… Isso é uma proibição categórica dentro do Islã.

Para encerrar, Isbelle lembrou casos que mostram muçulmanos e pessoas de outras religiões convivendo em paz e até defendendo uns aos outros, como na época da revolução no Egito, em que cristãos e muçulmanos se uniram para derrubar o ditador; os muçulmanos que fizeram um cordão ao redor de uma sinagoga na Noruega para protegê-la depois de um atentado em outra sinagoga na Europa; e os cristãos que também fizeram um cerco para que um grupo de muçulmanos pudesse rezar:

– O muçulmano quando busca ser coerente com a realidade dele, e na verdade mesmo o cristão ou a pessoa de qualquer outra religião, sempre a base vai ser amor, paz e convivência. Se existe uma religião para pregar o ódio, a guerra, o terror, o mal, para mim não merece ser colocada como religião – finalizou.