A Devoção Mariana nos 300 anos do encontro da imagem de Aparecida

Até 11 de outubro, estaremos no Ano Nacional Mariano proclamado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a CNBB, para celebrar e agradecer pelos 300 anos do encontro da Imagem de Nossa Senhora, nas águas do rio Paraíba do Sul. Nesta entrevista, irmã Lina Boff, Professora Emérita da PUC, fala sobre a devoção a Nossa Senhora e como ela tem se manifestado ao longo da história do Cristianismo. Autora dos livros Maria e o Feminino de Deus, Como Tudo Começou com Maria de Nazaré e o recém-lançado Aparecida – 300 Anos de Romaria em Prece, irmã Lina esteve no Centro Loyola para a palestra As Várias Marias Aparecidas. Segundo ela, Maria é a mãe da misericórdia, porque experimentou a misericórdia do Pai antes de toda criatura.

A Mãe de Deus é chamada no mundo inteiro por diferentes nomes, por que existem tantas nomenclaturas para uma mesma pessoa?
Irmã Lina Boff: Porque ela é uma mulher que se incultura em todas as culturas, ela entra em todas as expressões de fé de cada cultura. Não falo só de fé católica, cristã, muçulmana ou budista, mas de todo tipo de fé. Ou seja, a expressão de transcendência de fé do ser humano de dentro para fora. Alguém que crê em um ser superior, essa pessoa tem fé e esta inserida dentro de uma cultura. Cultura é o ethos, quer dizer os costumes, tradições, modos, jeitos de andar, de se relacionar e constituir família. E, em cada cultura, Maria entra e encontra espaço de ser cultuada por essa fé. Nem todo tipo de fé e nem todas as religiões devotam e dão à Maria o culto que nós cristãos damos. Os evangélicos, por exemplo, não dão a nossa senhora o culto que nós católicos damos, mas eles acreditam em uma mulher poderosa, em uma mulher que está presente em cada mulher de toda cultura.

O que é necessário para uma nomeação Mariana ser consagrada na Igreja católica?
Irmã Lina:
Em primeiro lugar que haja o culto nas comunidades de fé, como a diocese, paróquia, grupo ou irmandade. Todo tipo de associação que se reúne e organiza para viver a sua fé precisa em primeiro lugar render culto a Nossa Senhora. Se existe esse culto, a Igreja assume e chega até a proclamar com verdade de fé aquele culto, aquela Maria, aquela Nossa Senhora que é invocada, cultuada e venerada. A Imaculada Conceição é um caso desses. Primeiro houve um culto, o pessoal começou a acreditar e invocar Nossa Senhora, falaram com o Papa, e o Papa falou com os teólogos da época. Então é pela via indireta, primeiro o povo acredita. Depois que houver a veneração é que a Igreja reconhece.

E como a senhora caracteriza a devoção à Maria no Brasil após 300 anos do encontro da imagem de Aparecida?
Irmã Lina:
Essa devoção está cada vez mais avançando, cada vez o povo encontra em Maria a resposta para os seus desejos, para as suas necessidades, para o seu bem estar, para a sua própria fé, pois ela aponta pra Jesus.

Qual o papel de Maria para o desenvolvimento da fé cristã?
Irmã Lina:
É um papel eminente, importante, porque ela é a direção para Jesus. Isso significa que nós todos somos seguidores de Jesus, como ela seguiu o próprio filho. Ela foi muito mais discípula do que mãe, por isso ela é chamada de discípula-mãe.

E quanto a sua devoção? Por qual título devocional a senhora prefere chamar Maria de Nazaré?
Irmã Lina:
Mãe de Deus, porque ela abrange Jesus Cristo, Espirito Santo… E todos Eles atuaram Nela. Na Anunciação, por exemplo, o pai atuou enviando o filho. Maria acolheu no seu útero o filho Jesus, e como Deus o enviou? Através do Espirito Santo. A Trindade toda está contida Nela. Então Mãe de Deus é tudo. Mas o povo coloca os vários nomes. Aparecida, por exemplo, porque foi encontrada, mas ela não apareceu, ela foi encontrada. A Maria foi encontrada, porque ela já existia, não precisou aparecer. A aparição leva ao fenômeno segundo a sociologia, e aqui não precisa se estudar o fenômeno.

Reportagem: Barbara Tenório
Fotografia: Theo Carvalho